Bem-vindo ao PORTAL DE NOTÍCIAS - Bofete Online!
Do Setembro Amarelo ao alerta do Burnout: quando o trabalho adoece
Ambientes tóxicos, cobranças excessivas e culturas organizacionais falhas estão entre os principais gatilhos do Burnout, síndrome reconhecida pela Organização Mundial da Saúde como doença ocupacional e que tem crescido silenciosamente em escolas, empresas e instituições.
ARTIGOS
Vítor Cruz
9/27/20254 min read


Com o encerramento do Setembro Amarelo, mês dedicado à prevenção do suicídio e à promoção da saúde mental, surge uma reflexão necessária sobre um problema que cresce silenciosamente em empresas, escolas e organizações: a síndrome de Burnout.
Reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma síndrome ocupacional, o Burnout é resultado de estresse crônico não administrado, geralmente em ambientes de alta cobrança, metas abusivas e culturas organizacionais tóxicas.
O tema vai muito além do simples cansaço.
Segundo especialistas, o Burnout não escolhe profissão ou cargo: pode atingir desde estagiários até líderes, especialmente pessoas que amam o que fazem e se dedicam intensamente.
A psicóloga Camila Ferreira explica que os sinais de alerta vão além do esgotamento físico.
“Mudanças bruscas de humor, isolamento, falas carregadas de negatividade e desesperança são pistas importantes. Quando a pessoa evita contato com colegas, perde o prazer pelo trabalho e sente que nada pode melhorar, é hora de ligar o alerta vermelho.”
Cansaço, exaustão e Burnout: entenda a diferença
É comum confundir os sintomas, mas existe uma progressão clara:
Cansaço: é natural. Após uma noite de sono ou um final de semana de descanso, o corpo se recupera.
Exaustão: persiste mesmo após o descanso, mas ainda pode ser revertida com pausas estratégicas e mudanças na rotina.
Burnout: é a fase mais crítica. A pessoa vive em exaustão constante, mesmo dormindo e descansando, porque o problema deixou de ser apenas físico — tornou-se emocional e psicológico.
A jornalista Isabela Camargo, referência no tema, alerta que o Burnout costuma atingir profissionais comprometidos e responsáveis:
“Você dá o seu melhor, trabalha com paixão e entrega total. Mas, quando os recursos são insuficientes diante das demandas, o corpo trava, a mente não responde, e o prazer se transforma em exaustão.”
Quando o ambiente de trabalho se torna gatilho
Ambientes corporativos e educacionais podem ser grandes gatilhos para o adoecimento emocional. Culturas organizacionais marcadas por competitividade excessiva, favoritismo, comunicação falha e falta de reconhecimento são terrenos férteis para o Burnout.
A psicóloga Camila Ferreira reforça que prevenir começa no coletivo:
“A transformação exige que a saúde mental entre de forma séria na pauta das gestões. É preciso repensar práticas institucionais, avaliar processos e manter um diálogo aberto. Só é possível prevenir quando o ambiente valoriza o bem-estar tanto quanto os resultados.”
Infelizmente, muitas empresas e instituições ainda tratam os colaboradores como números. Pesquisas mostram que bons profissionais raramente pedem demissão de forma repentina: eles se desligam emocionalmente antes, apresentando sinais como retração em reuniões, queda de engajamento e ausência de ideias novas. Quando esses sinais são ignorados, a perda de talentos se torna inevitável.
“Gente talentosa não foge do trabalho duro.
Foge de ambientes tóxicos e de lideranças fracas.”
Impacto no setor educacional
O Burnout tem afetado significativamente o setor educacional. Professores, historicamente sobrecarregados, enfrentam jornadas que vão além da sala de aula: planejamentos, reuniões, demandas burocráticas e cobranças intensas. Em algumas instituições, o problema é agravado por falta de clareza na comunicação, metas desproporcionais e ausência de suporte e entendimento emocional.
O resultado não atinge apenas o professor: alunos e comunidades inteiras sentem os reflexos de profissionais exaustos, desmotivados e adoecidos.
A importância do suporte psicológico
Em casos mais graves, como violência psicológica ou ambientes abusivos, a psicoterapia se torna essencial.
Camila Ferreira destaca o papel do acompanhamento especializado:
“A terapia é um espaço seguro para compreender o que está acontecendo, reconstruir a autoestima e recuperar a autonomia. Mais do que tratar a dor, ela devolve à pessoa a dignidade e a possibilidade de existir sem medo.”
Além do cuidado individual, as organizações têm responsabilidade legal e moral.
O Burnout é reconhecido como doença ocupacional, o que significa que empresas podem ser responsabilizadas por não oferecer condições adequadas de trabalho.
Prevenção: uma via de mão dupla
Prevenir o Burnout exige ação tanto individual quanto coletiva:
No nível individual:
Respeitar limites pessoais e profissionais;
Fazer pausas intencionais durante o dia;
Buscar apoio psicológico ou psiquiátrico quando necessário;
Conversar com pessoas de confiança sobre os sinais de esgotamento.
No nível coletivo:
Garantir que líderes recebam treinamento em gestão emocional;
Promover ambientes de diálogo e escuta ativa;
Estabelecer metas realistas;
Reconhecer o trabalho e valorizar talentos.
Como explica Camila Ferreira:
“Prevenir não é apenas evitar o adoecimento, mas criar condições para que as pessoas possam se manter bem, com qualidade de vida, sentido e dignidade profissional.”
O Burnout não é um problema restrito ao indivíduo, mas um sintoma de falhas estruturais na forma como trabalhamos e nos relacionamos profissionalmente.
Ignorar sinais de adoecimento custa caro: em produtividade, em capital humano e, principalmente, em vidas.
Que este Setembro Amarelo nos inspire a construir ambientes de trabalho onde metas e resultados caminhem ao lado do respeito e da saúde mental.
Se você está enfrentando sinais de exaustão profunda, procure ajuda profissional.
E se você ocupa um cargo de liderança, lembre-se: cuidar da sua equipe não é gasto, é investimento estratégico.
Artigo elaborado por Vítor Cruz, jornalista, embasado em experiência prática e análise de especialistas.

